Os
choques ou diferenças culturais são inevitáveis e fazem parte da vida de um
intercambista. Coisas que nos parecem normais são estranhas aos olhos
estrangeiros e vice-versa.
Algumas
profissões também passam por esse choque. É comum, por várias razões,
brasileiros e outros estrangeiros, latino-americanos principalmente, virem para
Irlanda estudar e trabalhar como au pair,
cleaner, housekeeper e outras funções que são pouco valorizadas no Brasil.
Muitas
vezes pessoas com formação superior e carreira bem desenvolvida em seu país de
origem vão para um país estrangeiro em busca de aperfeiçoamento de um idioma,
de uma pausa na vida corrida ou simplesmente da experiência de vida no
exterior.
Mas
trabalhar como faxineiro, babá, au pair
e por ai vai? Sou graduado no meu país, por que me submeter a esse tipo de
humilhação? – muitos pensam.
Uma
grande diferença é que esse tipo de trabalho costuma ser tão bem remunerado
como qualquer outro nos países desenvolvidos. Na Irlanda, por exemplo, um
estudante que trabalhe 20 horas semanais como faxineiro, porteiro ou atendente
de lanchonete pode, além de pagar o aluguel; alimentar-se bem, inclusive com
produtos considerados caros e chiques no Brasil; viajar para vários países, sem
muito luxo; e ter produtos eletrônicos e de vestuário de qualidade e “de
marca”. Essa vantagem pode ser ainda maior para quem trabalha como au pair live in, ou seja, mora e se
alimenta no local de trabalho, e ainda recebe salário.
Maria
Clara dos Santos, estudante de Relações Internacionais no Brasil, trancou o
curso por um semestre e veio viver a experiência do intercâmbio. Um mês depois
de chegar a Dublin começou a trabalhar como au
pair na casa de uma família irlandesa cuidando de duas crianças de 2 e 5
anos. Ela conta como a experiência foi satisfatória e recompensante:
“No
começo me senti desconfortável com a ideia, li alguns relatos negativos da
experiência de au pair, mas como os
bons eram maioria e todos diziam ser uma das melhores oportunidades, resolvi
arriscar.
Adorei
a família com que trabalhei e vivi por três meses. A experiência me ajudou
bastante com o inglês e a entender um pouco da cultura irlandesa, também
economizei um bom dinheiro com aluguel e alimentação, além de ter meu salário
para sair ou comprar o que quisesse. Saia nos fins de semana com os amigos e
pude guardar um bom dinheiro para viajar.
Só
deixei a família, pois só ficaria seis meses, por causa da faculdade, e queria
viajar com mais freqüência. Mas amei a experiência e tenho contato com eles até
hoje
A
grande diferença desses trabalhos que nós brasileiros vemos como menores é que
no Brasil uma babá ou faxineira trabalha muito e recebe muito pouco, e para ter
uma qualidade mínima de vida tem que trabalhar de sol a sol. Aqui todo trabalho
é valorizado”.
Carlos
Machado é outro brasileiro que se aventurou por terras irlandesas. Recém formado
em Direito, mas com problema com o idioma inglês, ele decidiu morar durante um
ano em Dublin e atualmente, devido a pouca fluência, está trabalhando como cleaner em um escritório.
“No
começo é difícil aceitar a idéia, ainda mais quando se vem com uma formação
valorizada como é o Direito no Brasil, mas meu inglês é básico para
sobrevivência, então tive que aceitar o que me era possível no momento, mas
como meu objetivo aqui é aperfeiçoar o idioma, uso o trabalho como meta, quero
melhorar logo meu nível para poder procurar melhores postos de trabalho.
Conheci
brasileiros que moram aqui há alguns anos, e mesmo trabalhando como atendentes
ou em pubs, tem uma qualidade de vida melhor do que de amigos meus formados em
Direito e Letras no Brasil, por exemplo. É um pouco chocante e mostra que nesse
ponto ainda temos muito que aprender com outros países”.
Então
para os brasileiros a caminho da Irlanda com receio de “se rebaixar”, esqueçam
esse tipo de pensamento, venham de mente aberta e aproveitem o que o
intercâmbio tem de melhor.
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